Terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Doença de Huntington – Por Allefy
Beltrão
A doença de Huntington (homenagem
ao pesquisador que a descreveu), ou Coréia, é uma síndrome extrapiramidal e neurodegenerativa
progressiva de caráter genético com uma incidência de 3 a 8 casos por 100.000
indivíduos. No geral, caracteriza-se sindromicamente por movimentos
involuntários e rápidos (coréicos) e alterações de cognição e personalidade que
se manifestam por volta dos 40 anos de idade. O diagnóstico pode ser feito
mediante análise da história clínica do paciente e observação de postura e
marcha deste, além da utilização da técnica de reação em cadeia da polimerase
(PCR) que permite detectar a alteração no gene IT15, fator responsável pela
síntese da proteína alterada que é responsável pela doença.
A afecção é resultado da expansão de uma
trinca de bases localizadas na região 5’ do gene IT15 do cromossomo 4 e resulta
na produção de uma proteína huntingtina(htt) mutante. Seu padrão autossômico
dominante com penetrância completa faz com que o indivíduo que possua um único
alelo para a doença, a manifeste na vida adulta. Portanto se um dos pais possui
o gene em questão, seu filho terá 50% de chances de portá-lo da mesma forma e
manifestar a DH em algum momento de sua vida. No entanto, caso o descendente
não herde o segmento de DNA em questão, não sofrerá de huntington nem a
transmitirá para a geração seguinte. A manifestação da doença pode ser precoce
ou tardia e o teste que permite detectar uma predisposição do indivíduo pode
ser feito previamente.
A destruição anormal de neurônios nos
territórios cerebrais correspondentes aos gânglios da base é a grande
responsável pelo aparecimento dos sintomas iniciais como as perdas cognitiva e
emocional. A doença é progressiva e manifesta outros sintomas com o decurso do
tempo. Logo o indivíduo desenvolve movimentos abruptos, adventícios, rápidos e
dotados de bastante inquietação (Coréia), em especial nos olhos, boca e membros
superiores, o que caracteriza a fase mais incômoda da doença, onde por mais que
o portador queira parar de executar movimentos tão ridículos, alguma “força
oculta” parece ordená-lo a não parar. Alterações de personalidade parecem
também ser bastante comuns na fase inicial, as quais tornam o doente totalmente
desconecto em relação à comunicação que mantinha com o ambiente a sua volta. No
progresso da doença, a distonia e a bradicinesia podem ser recorrentes, esta
última podendo aparecer também no estágio final em que pode vir associada à
rigidez, o que pode acarretar acinesia, um quadro bem mais delicado e crítico.
A ida do paciente coréico ao especialista pode
ser fracassada caso ele esteja no estágio inicial, onde muitas manifestações
diferencias ainda não ocorreram. Muitas vezes alguns movimentos abruptos são
diagnosticados pelo médico como simples tiques sem nenhuma razão mais grave.
Exames de imagem como uma TC também podem não conseguir diagnosticar algum
processo degenerativo. A marcha coréica acompanhada de alguns distúrbios
cognitivos e de personalidade prematuros podem ser o diferencial para o médico
em sua primeira suspeita. Outro sintoma bastante recorrente no estágio inicial
e que facilita a captação na análise do médico é a incapacidade do paciente em
realizar movimentos seqüenciais de maneira correta ou movimentos simples
rapidamente. Outra manifestação que pode ser precoce é o aparecimento de
reflexos hiperativos. O reflexo plantar em extensão mais comumente aparece de
maneira tardia, acompanhado de clônus, em estágios mais avançados. Ao observar todos estes sinais iniciais que envolvem
postura e comportamento, o médico deve formar um heredograma a partir da
história clínica da família do seu paciente e saber se algum integrante da
família dele foi acometido pela DH. Após a análise genealógica poderá solicitar
exames moleculares que consistirão na análise de DNA para a detecção do gene
defeituoso responsável pela manifestação da patologia.
O estágio mais crítico da DH consiste na
incapacidade do doente em executar atos simples como falar e engolir, por mais
que ainda possa reconhecer pessoas que circulem ao seu redor como familiares e
amigos. Disfagias e engasgos são bastante comuns nessa fase e são responsáveis
por boa parte da mortalidade de paciente que possuem a DH. “A imobilidade
causada pela doença é sim a grande responsável pela mortalidade do portador e
não a doença em si”. Traumatismos e infecções são outros fatores que podem
complicar ainda mais a vida do paciente crítico. Vale ressaltar a alta taxa de
suicídios entre pessoas que manifestam a síndrome, pois o diagnóstico de uma
doença que causará sua morte aos poucos, pode levar o indivíduo a perder a “razão
do viver”.
As dificuldades no diagnóstico não são muitas,
já que o quadro da doença é bem característico. As complicações surgem quando
esta se manifesta de forma precoce ou quando o paciente não apresenta
antecedentes familiares huntingtonianos.
Não há cura para o problema, nem sequer uma
forma de evitar que a doença se agrave. O tratamento feito junto ao
especialista consiste em retardar os sintomas e manter as capacidades
funcionais do indivíduo o máximo de tempo possível. Medicamentos a base de
bloqueadores dopaminérgicos podem suavizar movimentos e comportamentos
anormais. O uso dos antioxidantes como a coenzima Q10 e o tocoferol,
suplementos nutricionais como a creatina e a nicotinamida, além da restrição
nutricional ao ferro podem aliviar um pouco o processo de neurodegeneração. Outras
formas de tratamento farmacológico consistem em antipsicóticos contra Coréia e
bradicinesia, antidepressivos contra depressão e alterações de humor que o
paciente venha a manifestar, ansiolíticos no combate à ansiedade, hipnóticos em
relação à insônia, e até mesmo estimuladores de apetite, já que em estágios
mais avançados da doença o paciente perde peso com muita facilidade devido à
série de dificuldades que possui para se alimentar. Formas não-farmacológicas
de lidar com o problema também podem ser empregadas. O acompanhamento do
paciente e da família junto a um psicólogo é essencial na tentativa de
assimilação do diagnóstico chocante e das implicações futuras que aquilo
causará. Terapias acessórias como as nutricional, da fala e cognitiva também
são fundamentais como melhora para o ânimo e bem-estar do paciente a nível de
coordenação motora, digestão, aprendizagem e expressão oral, fazendo com que o
indivíduo não perca estas habilidades de forma tão prematura. A grande
expectativa para o futuro é que o implante de células estaminais nas áreas
cerebrais afetadas possa substituir os neurônios que foram destruídos e assim
desacelerar o processo de degeneração.
George
Huntington, descreveu a doença.
Referências Bibliográficas
1-Huntington´s Disease
Colaborative Research Group. A novel gene containing a trinucleotide repeat
that is expanded and unstable on Huntington´s disease chromosomes. Cell
1993;72:971-83.
Willard.
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2-Adams
RD, Victor M: Neurologia. 5 edição, São Paulo, 1996.[
3-Guyton
AC, Hall JE. O cerebelo, os gânglios da base e o controle motor global. In
Guyton AC: Tratado de fisiologia Médica, 9th Ed. Guanabara Koogan. Rio de
Janeiro – RJ, 1996
4-Jankovic
J: Os distúrbios extrapiramidais. In: Bennet JC, Plum F. Cecil Tratado de
Medicina Interna, volume2, 20 edição. Rio de janeiro, Guanabara Koogan 1997.
5- BACHESCHI, LA. ; FORTINI, I. In: NITRINI R. BACHESCHI,
LA. (Eds.) A neurologia que todo omédico
deve saber. São Paulo, SP: Editora Atheneu, 2005; pág. 366.
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