quinta-feira, 26 de abril de 2012

ESPASMO HEMIFACIAL - por Agláia M. G. Ximenes



Espasmo hemifacial (EH) é um distúrbio do movimento, pertencente ao grupo das distonias focais, no qual os músculos inervados pelo nervo facial (NF) ipsilateral (sétimo par craniano) apresentam contrações tônicas ou clônicas, involuntárias, unilaterais e irregulares (YALTHO; JANKOVIC, 2011; FELICIO et al, 2011), e pode ser classificado de acordo com a patologia de base em idiopático (ou primário) e secundário (FELICIO et al, 2011). O EH secundário decorre de Paralisia Facial (espasmo hemifacial pós-paralítico), Paralisia de Bell, lesão do nervo facial, desmielinização e insultos vasculares cerebrais (YALTHO; JANKOVIC, 2011).  
Já o espasmo hemifacial idiopático (EHI) é frequentemente atribuído a compressões vasculares na zona de saída da raiz dorsal do nervo facial (ou Dorsal Route Entry zone – DREZ), que podem ser causadas por variações e malformações das artérias vertebrais, cerebelares inferiores anteriores e cerebelares inferiores posteriores (SHITING et al, 2010) além de ramos anômalos do sistema arterial vértebro-basilar (OSAKI; BELFORT, 2004; SEKULA JR et al, 2009; ABBRUZZESE et al, 2011) .

Tais compressões podem ser classificadas em seis categorias: loop (o vaso contorna o nervo comprimindo-o), aracnoide (trabéculas de aracnoide entre o tronco cerebral e o nervo facial comprimem os vasos contra este), perfurante (ramos perfurantes originados do sistema vértebro basilar penetram no tronco encefálico passando pelo NF e comprimindo-o), ramo (o NF está preso entre uma artéria e um de seus ramos), sanduíche (o NF está entre dois vasos do sistema vértebro-basilar) e tandem (um vaso comprime outro vaso que por sua vez comprime o nervo) (PARK et al, 2008).

 
O EHI é uma condição crônica, que raramente tem remissão espontânea (BARBOSA et al, 2010), e pertence ao grupo das distonias focais, cuja incidência é estimada em 2 novos casos por milhão de habitantes por ano, resultando em uma prevalência de 29,5 casos por 100.000 habitantes (BRASIL, 2010).

Embora a maioria dos pacientes com EHI não apresente redução de expectativa de vida, freqüentemente sofrem de baixa auto-estima, depressão e interação social prejudicada, sendo por isso o EHI um fator que influencia negativamente a qualidade de vida do paciente (OSAKI; BELFORT, 2004; SETTHAWATCHARAWANICH et al 2011; SEKULA JR et al, 2009).


 
Acomete principalmente a região periorbital, espalhando-se em seguida para os músculos da face (zigomático maior, zigomático menor, orbicular da boca, risório e mentoniano) e do pescoço (platisma) do mesmo lado. Os espasmos persistem durante o sono (OSAKI; BELFORT, 2004), e podem ou não interrompê-lo. A apresentação do EHI pode ser típica, quando as contrações se iniciam no músculo orbicular do olho e depois se espalham para a região inferior da hemiface ipsilateral, ou atípica, quando as contrações tem início na porção inferior da hemiface e ascendem (SEKULA JR et al, 2009).

Apresentações anômalas do EHI podem incluir parestesia facial, perda ou diminuição da acuidade auditiva e vertigem, sintomas estes que se apresentam quando as malformações vasculares do sistema vértebro-basilar atingem os nervos facial, vestíbulo-coclear e trigêmeo (PERLMUTTER et al, 2010).

O diagnóstico diferencial inclui tiques, causas psicogênicas, mioclonias (YALTHO; JANKOVIC, 2011), outras distonias, como o blefaroespasmo e a distonia oro-mandibular (BRASIL, 2010) além de espasmo hemifacial secundário à compressão no nervo facial por tumor.

Até a introdução da toxina botulínica como alternativa terapêutica, outras opções eram o tratamento oral (cujos resultados eram mínimos) e intervenção cirúrgica, com potencial curativo (no caso de EHI associado a compressão vascular) (SINDOU; KERAVEL, 2009), mas com risco inerente de complicações. O uso da toxina botulínica tipo A foi aprovado pela Food and Drug Administration em 1989 no Estados Unidos e aprovado em 1992 no Brasil, e desde então tornou-se  tratamento padrão do EHI (BARBOSA, 2010), sendo esta opção terapêutica de alto custo21 bem sucedida no controle temporário dos espasmos em 88% dos casos (BRASIL, 2010; KENNEY; JANKOVIC, 2008).
 Apesar disso, a toxina botulínica apenas alivia os sintomas, e seus efeitos são inconstantes e sempre transitórios, necessitando o paciente de aplicações periódicas da mesma, as quais geralmente são feitas a cada 3 a 6 meses. O tratamento definitivo para as EHI é a técnica conservadora de Cirurgia Microvascular Descompressiva (CMD) cujo potencial de cura é de 85% a 95% dos pacientes ((SINDOU; KERAVEL, 2009; PARK et al, 2008; FERREIRA JR et al, 2011). Sendo executada por profissionais de alta capacidade técnica, a CMD pode ser realizada com baixa morbidade.

A fim de minimizar a possibilidade de recorrência, o procedimento deve focar-se em encontrar todos os fatores que tornaram a compressão neuro-vascular inevitável, após aparente descompressão bem sucedida. Desta forma, mais de um vaso pode ser encontrado como causa da compressão, permitindo a correção desta e a execução da CMD com maior potencial curativo. Além disso, para melhorar o desfecho clínico dos pacientes submetidos à CMD, deve ser realizado o monitoramento trans-operatório de atividade muscular anormal por eletroneuromiografia (SEKULA JR et al, 2009; YING et al, 2011).
Uma vez que o vaso responsável pela compressão do nervo facial seja identificado, o padrão provável de compressão pode ser antecipado, e este conhecimento pode facilitar a aplicação da técnica cirúrgica e minimizar as complicações pós-operatórias.

REFERÊNCIAS

1.      ABBRUZZESE, Giovanni et al. Hemifacial spasm. Handb Clin Neurol. v. 96, n. 11. Nov. 2011.

2.      BARBOSA, Egberto Reis et al . Botulinum toxin type A in the treatment of hemifacial spasm: an 11-year experience. Arq. Neuro-Psiquiatr. São Paulo, v. 68, n. 4, Aug.  2010.  

3.      BENTO, Ricardo F. et al. Espasmo hemifacial: dez anos de experiência
Rev. bras. otorrinolaringol
. v. 57, n. 3, Jul.-Set. 1991.

4.      BRASIL, Ministério da saúde: Secretaria de Atenção à saúde. Protocolos Clínicos E Diretrizes Terapêuticas -  Volume I. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Distonias Focais e Espasmo Hemifacial (Portaria SAS/MS nº 376, de 10 de novembro de 2009) - 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde: 2010.

5.      FELICIO, André Carvalho et al. Clinical assessment of patients with primary and postparalytic hemifacial spasm: a retrospective study. Arq. Neuro-Psiquiatr., São Paulo, v. 65, n. 3b, Set.  2007.

6.      FERREIRA JR, Manuel. et al. Vertebral artery pexy for microvascular decompression of the facial nerve in the treatment of hemifacial spasm. J Neurosurg. v. 114, n. 6. Jun. 2011.

7.      HAN, In-Bo et al. Unusual Causes and Presentations of Hemifacial Spasm. Neurosurgery. v. 65, n. 1. Jul 2009.

8.      KAWASHIMA, Massatou et al. Hemifacial spasm caused by vascular compression of the distal portion of the facial nerve associated with configuration variation of the facial and vestibulocochlear nerve complex. Turk Neurosurg. v. 19, n. 3. Jul. 2009.

9.      KENNEY, Christopher; JANKOVIC, Joseph. Botulinum toxin in the treatment of blepharospasm and hemifacial spasm. J Neural Transm v. 115, n. 4. 2008.

10.  LASALVIA, Cintia G. G. et al . Custos e eficácia da toxina botulínica tipo A no tratamento do blefaroespasmo essencial e espasmo hemifacial. Arq. Bras. Oftalmol., São Paulo,  v. 69,  n. 5, Out.  2006.  

11.  NARAGHI, Ramim. Classification of neurovascular compression in typical hemifacial spasm: three-dimensional visualization of the facial and the vestibulocochlear nerves. J Neurosurg. v. 107, n. 6.  Dez. 2007.  

12.  OSAKI, Midori Hentona; BELFORT JR, Rubens. Qualidade de vida e custos diretos em pacientes com blefaroespasmo essencial e espasmo hemifacial, tratados com toxina botulínica-A. Arq. Bras. Oftalmol., São Paulo,  v. 67,  n. 1, Feb.  2004.  

13.  PARK, Jong Seok et al. Hemifacial spasm: neurovascular compressive patterns and surgical significance. Acta Neurochir. v. 150, n.  3Mar. 2008.

14.  PERLMUTTER, David H. et al. Microvascular Decompression in Patient With Atypical Features of Hemifacial Spasm Secondary to Compression by a Tortuous Vertebrobasilar System: Case Report. Neurosurgery. v. 66, n. 6. Jun. 2010.

15.  RASLAM, Ahmed M. et al. Sensitivity of high-resolution three-dimensional magnetic resonance angiography and three-dimensional spoiled-gradient recalled imaging in the prediction of neurovascular compression in patients with hemifacial spasm. J. Neurosurg. v. 111, n. 4. Out. 2009.

16.  SEKULA JR, Raymond et al. Intraoperative Electromyography in Microvascular Decompression for Hemifacial Spasm: A Meta-analysis. Neurosurg Focus. v. 27, n. 4. Out. 2009.

17.  SETTHAWATCHARAWANICH, Suwanna  et al. Factors associated with quality of life in hemifacial spasm and blepharospasm during long-term treatment with botulinum toxin. Qual. Life Res. v. 20, n. 9 Nov. 2011.

18.  SHITING, Li et al. Re-operation for persistent hemifacial spasm after microvascular decompression with the aid of intraoperative monitoring of abnormal muscle response. Acta. Neurochir. v. 152, n. 12, Dez 2010.

19.  SINDOU Marc, KERAVEL Yves. Neurosurgical treatment of primary hemifacial spasm with microvascular decompression. Neurochirurgie. V.55, n. 2, Abr. 2009.

20.  YALTHO, Toby C; JANKOVIC, Joseph. The many faces of hemifacial spasm: Differential diagnosis of unilateral facial spasms. Mov. Disord. v. 26, n. 9, Aug 2011.

21.  YING, Ting-Ting et al. The value of abnormal muscle response monitoring during microvascular decompression surgery for hemifacial spasm. I J Surg. v. 9. n. 4. 2011.

CRÉDITOS DAS IMAGENS

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Palestra


A Liga Acadêmica de Neurologia e Neurocirurgia da UFPB convida a todos os estudantes e demais interessados para a reunião da semana:
Tema:Lesões Nervosas Periféricas
Palestrante: André Vidal (P8)
Data: 13/04/2012

Hora: 17:00Local: sala 803 do Arnaldo Tavares