quarta-feira, 17 de julho de 2013

Cefaléias: Abordagem geral e sinais de alerta - por Artur Bastos Rocha

A queixa de “dor de cabeça” é bastante comum na rotina do atendimento médico, quer seja em ambiente ambulatorial ou em unidade de urgência e emergência. O paciente sente-se bastante incomodado e é considerada a queixa mais prevalente em todos os consultórios médicos, independente da especialidade. 54-90% de todos os indivíduos da população geral irão apresentar ao menos uma vez na vida um episódio de algia no segmento cefálico. Ao se entender a dor como mecanismo de defesa, compreende-se porque esta queixa é tão comum, visto que por abrigar várias estruturas nobres a extremidade cranial de nosso organismo é rica em nociceptores abrigados em diversos componentes de sua anatomia, de modo a protegê-la de eventuais riscos. Os mecanismos que podem causar cefaléia são basicamente de causa: vascular, tração, distorção, distensão e inflamação das estruturas que contem os nociceptores
As cefaléias podem ser classificadas quanto à etiologia em primárias e secundárias, em que nestas existe uma patologia de base que cursa com um dos sintomas a cefaléia, enquanto que naquelas não existe nenhuma alteração orgânica ou funcional que leve ao quadro de dor, sendo portanto ela a própria doença.
As cefaléias primárias são as mais comuns, correspondendo a cerca de 80-90% de todas as cefaléias e possuem em geral caráter benigno sem trazer complicações sistêmicas ao paciente, enquanto que as secundárias correspondem a cerca de 10-20% das etiologias. Nas etiologias secundárias existem sinais de acometimento sistêmico e focais que fazem suspeitar, e estas causas devem ser rapidamente identificadas ou excluídas no diagnóstico diferencial, já que algumas entidades nosológicas podem representar risco de vida iminente aos portadores desta queixa.
Em geral nas cefaléias primárias o paciente já apresentou episódios prévios e o padrão da dor é conhecido do paciente. Este grupo tem como principais representantes as cefaléias tipo tensional (CTT), migrânea (enxaqueca) e as trigêmino-autonômicas, com destaque para a cefaléia em salvas. As tensionais são as mais prevalentes, porém causam menor grau de incapacidade do indivíduo, de modo que a procura por atendimento médico é maior pelos pacientes com enxaqueca, pois esta tem maior caráter de incapacitância.
A CTT apresenta-se em geral com distribuição holocraniana, de caráter compressivo, podendo haver muitas vezes irradiação para musculatura acessória (queixa de dor nucal), sem fatores de piora como fotofobia, fonofobia e piora ao esforço físico. Geralmente não apresenta aura (sintomas premonitórios que o paciente refere antes de ter a crise), nem sinais autonômicos, como náuseas e vômitos. Dor de intensidade moderada a leve, apresenta menor grau de incapacitância e crise que dura de 15 minutos até 4 horas. Em geral a CTT episódica está associado a transtornos de estresse e alterações emocionais que o paciente possui.
A migrânea é mais comum ser de distribuição hemicraniana, de caráter pulsátil, em geral acompanhado de aura, sinais de piora como fotofobia, fonofobia e piora ao esforço físico. As auras mais comuns são a presença de escotomas, fosfenas (sensação luminosa devido a uma excitação inadequada dos receptores da retina, elétricos ou mecânicos, em que podem ocorrer brilhos em determinados pontos da campimetria visual). Apresenta maior grau de incapacitância e sua crise dura de 4-72h. A gênese da enxaqueca ainda é incerto, mas o que os estudos apontam é que ocorre pela vasodilatação das artérias cerebrais. A crise também pode ser agravada por vasoespasmos da musculatura dessa artérias, de modo que a dor estaria associada a alterações súbitas no diâmetro do lúmen dessas artérias.
A cefaléia em salvas é a menos prevalente das primárias, porém exige atendimento inicial imediato. A crise é definida pelo paciente com dor retroorbitária de um único lado, de caráter excruciante, com padrão paroxístico e em geral acompanhado de sinais autonômicos, como congestão e síndrome do olho vermelho e lacrimejamento. É de origem vascular, indicando uma hipoperfusão. O tratamento se dá com o uso de máscara de oxigênio nesse paciente, com um volume de 7-15 litros de oxigênio por minuto, e a fração de inspiração de oxigênio a 100%. A melhora que o paciente refere é quase que imediata. Associado a isso pode-se fazer medidas de analgesia geral. 
Alguns sinais de alerta (red flags) para causas secundárias potencialmente graves de cefaléias são
- Cefaléias + papiledema
- Cefaléia com rigidez nucal ou outros sinais de irritação meníngea
- Cefaléia de caráter novo em paciente acima de 50 anos
- Cefaleia de início súbito e como sendo a pior dor de cabeça da vida
- Cefaleia acompanhada de sinais sistêmicos (perda de peso, alterações respiratórias, etc;)


Na vigência desses sinais o médico é obrigado a investigar uma causa secundária e em geral estrutural, por meio de exames de neuroimagem e laboratoriais como análise do líquor em alguns casos.